Caminhou lentamente em direção ao mar, com os olhos fixos
nos últimos raios de sol no horizonte. Sentiu a maciez da areia ser substituída
pela umidade pouco antes da primeira onda atingir seus pés. Avançou até o mar
cobrir seus tornozelos. Na terceira onda, curvou-se, molhando a mão esquerda, e
saudou Iemanjá enquanto umedecia a testa numa prece sem religião. Foi tomada
por um sentimento de profundeza inominável.
Avançou. Gargalhava a cada onda que se chocava contra o seu
corpo, espalhando água e sal pelos ombros. A alegria era genuína, quase
infantil: não sentia mais medo. Não, não dessa vez. A intensidade do mar
causava admiração, não pavor.
Sabia bem: não seria tragada pelo oceano. A liberdade da
constatação relaxava todo o seu ser. Conseguia até boiar rapidamente naquela
imensidão! Sim, logo ela, que tanto temera o mar quando criança. Ela, que nunca
aprendera a nadar, porque nadar é relaxar e relaxar é confiar nas águas. Ela
aprendeu cedo demais a nunca confiar. Boiar, ali, era finalmente entregar seu
corpo à leveza de tudo e àquela força tão maior do que ela.
Observou o movimento das ondas por minutos que se
assemelhavam à vida toda. A melodia do mar sussurrava em seus ouvidos lições
que desaprendera. Recuperava partes de si em contato com a força das águas.
Banhada de luar recém-nascido, meditava à beira daquele pedaço de infinito.
Ali, o tempo não existia mais; havia apenas o rastro do sol e da lua pelas
ondas.
Gargalhava. Emocionada. Incrédula. Quase surpreendida. Tinha
chegado tão longe.
Camila Alferes
(16 a 19/03/2019)
Uau... Que lindo! ��������
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