domingo, 12 de maio de 2019

Navegante Aprendiz




Caminhou lentamente em direção ao mar, com os olhos fixos nos últimos raios de sol no horizonte. Sentiu a maciez da areia ser substituída pela umidade pouco antes da primeira onda atingir seus pés. Avançou até o mar cobrir seus tornozelos. Na terceira onda, curvou-se, molhando a mão esquerda, e saudou Iemanjá enquanto umedecia a testa numa prece sem religião. Foi tomada por um sentimento de profundeza inominável.

Avançou. Gargalhava a cada onda que se chocava contra o seu corpo, espalhando água e sal pelos ombros. A alegria era genuína, quase infantil: não sentia mais medo. Não, não dessa vez. A intensidade do mar causava admiração, não pavor.

Sabia bem: não seria tragada pelo oceano. A liberdade da constatação relaxava todo o seu ser. Conseguia até boiar rapidamente naquela imensidão! Sim, logo ela, que tanto temera o mar quando criança. Ela, que nunca aprendera a nadar, porque nadar é relaxar e relaxar é confiar nas águas. Ela aprendeu cedo demais a nunca confiar. Boiar, ali, era finalmente entregar seu corpo à leveza de tudo e àquela força tão maior do que ela.

Observou o movimento das ondas por minutos que se assemelhavam à vida toda. A melodia do mar sussurrava em seus ouvidos lições que desaprendera. Recuperava partes de si em contato com a força das águas. Banhada de luar recém-nascido, meditava à beira daquele pedaço de infinito. Ali, o tempo não existia mais; havia apenas o rastro do sol e da lua pelas ondas.

Gargalhava. Emocionada. Incrédula. Quase surpreendida. Tinha chegado tão longe.



Camila Alferes
(16 a 19/03/2019)


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