Medo. Medo de não me bastar. De não ser suficiente. Medo de
nunca crescer. De não conseguir me sustentar. Medo de jamais descobrir o que
quero da vida. De passar minha existência tentando me encaixar onde não caibo.
Medo da minha fobia. Emetofobia. De que esse fantasma nunca deixe de me
assombrar. Medo da falta de afeto. De que eu nunca seja acolhida. Medo da
rejeição. De não significar nada na vida de ninguém. Nem na minha própria. Medo
de me entregar e ser abandonada. De que eu jamais seja verdadeiramente amada.
Medo de expor meu coração e tê-lo arrancado de mim. De que eu não seja
atraente. Medo de que as pessoas não saibam me ler. De que tudo fique apenas na
superfície. Medo de ser quem sou. Sem amarras. Sem cobranças. Medo de que nada
mude. De que a vida seja desperdiçada. Medo de não descobrir meus potenciais.
De sempre ceder e me submeter. Medo de que dores passadas venham me sufocar. De
ser tragada por esse buraco imenso que tenho na alma. Medo de que minha
tristeza existencial afaste qualquer possibilidade de alegria. De que eu não
viva o presente. Medo de me perder dentro da minha própria cabeça. De não
conseguir enxergar a realidade. Medo de enlouquecer. Esquecer de mim e de quem
amo. Medo de me condenar a buscar afeto em quem tem pouco ou nada a oferecer. Medo
de ser insignificante. Invisível. Medo de não conseguir me enxergar como sou.
De me pautar na visão que os outros têm de mim. Medo de rastejar e não
encontrar saída. De me afogar na minha própria intensidade. Medo de cair e não
conseguir me reerguer. De não sobreviver, mesmo vivendo. Medo de perder a
capacidade de sonhar. De me encantar. Medo de jamais ser como eu gostaria de ser.
De viver uma vida de auto boicote.
Quero perder o medo de ser aprisionada pelos meus medos.
Quero encontrar as minhas asas. E voar.
Camila Alferes
29/01/2019
(após o primeiro dia da oficina “Margens: entre cicatrizes e
poesia, o que fica?”, com Ryane Leão, Lâmia Brito e Jéssica Balbino, no Sesc
Pinheiros)
Por que será que sempre me identifico tanto com o que escreve, autora desconhecida? Sempre.
ResponderExcluirÉ um ato de coragem expor a alma desse jeito. Te parabenizo pela ousadia. ^^~
ResponderExcluirE que voe tua liberdade.
É o texto mais forte e transparente que já te vi escrever... fiquei sem palavras... S2
ResponderExcluirMedo de exclamar um nome, quando vemos a proprietária cruzando nossa frente, no intervalo de um semáforo, na trégua de chuva de uma manhã sombria, cujo dia toca na alma trazendo reminiscências e entregando reticências.
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